Se
você, assim como eu, é usuário de redes sociais já constatou que os fatos e as
notícias sobre os fatos estão em segundo ou terceiro plano. O acontecimento, o
evento, o grande feito de alguém é o que menos importa nesta hierarquia maluca
do nosso tempo. As notícias sobre os fatos até tem alguma importância na medida
em que despertam para a “coragem” uma massa de covardes morais. Nesta linha uma
notícia não tem o escopo principal de informar os leitores, os espectadores e
usuários de plataformas sociais. As notícias também não buscam descrever com
minúcia um acontecimento qualquer no mundo. Neste sentido, as notícias que
circulam por aí nas redes sociais servem para instigar revolucionários,
certificar “cientistas políticos”, “armar” pessoas violentas, mas todos em um
plano virtual. Para constatar essa questão, basta ver que as pessoas “gastam”
mais tempo lendo os comentários e, não raras às vezes, nem leem a notícia e o
fato narrado não tem quase nenhuma importância. Que fique claro: esta crítica
tem pouco a ver com os editores, mas sim muito com o tipo de leitor que circula
por aí – os corajosos virtuais, mas que no fundo são um bando de covardes
morais.
Por que covardes morais? Por que corajosos virtuais?
Parto do princípio de que a moral nasce da constituição interna do sujeito, são
os valores que ele elege para si, são as regras que impõe para ele mesmo e que as
vivencia no plano de sua subjetividade, mas que tem a coragem de testemunhar no
âmbito social sem que nenhuma lei o obrigue a fazê-lo. Neste sentido, a moral
não é imposta de fora, mas é criação na liberdade do sujeito. Minha questão é a
seguinte: quantos destes revoltados online, revolucionários de “feicibuque”
cientistas políticos formados a partir de grandes manuais da mídia estariam
dispostos e teriam coragem de sustentar suas “teses” em um debate real, vis a
vis...
A coragem é uma virtude bastante difundida e a ser
conquistada pelo hábito entre os gregos antigos. Por ser uma virtude, ela
supunha outras virtudes irmãs: a justiça, a prudência e a temperança. O
indivíduo corajoso, para os gregos antigos, era aquele que indiferente do
estatuto social ou do cargo que possuía praticava e testemunha perante os
outros uma vida virtuosa. O “corajoso virtual” dos nossos dias é incapaz de
ouvir os ditames de uma ação justa, desconhece por inteiro atitudes prudentes e
a temperança tem muito mais a ver com os “reality
shows” de culinária. Por isso, é capaz de tudo escrever numa rede virtual,
mas é um covarde moral no momento real em que é confrontado e precisa ser forte
o suficiente para sustentar suas hipóteses desprovidas probidade intelectual. Que
coragem moral prevaleça sobre a ‘aparente’ coragem virtual.
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