16 de jun. de 2017

Uma coisa perigosa: a ignorância e a crença 
transformadas em opinião.



Eis que numa manhã de sexta-feira lemos no respeitado jornal A Semana, de Curitibanos - SC, a opinião de um conhecido advogado provinciano e reconhecido colunista do semanário sobre o ensino de filosofia. Alega o ‘doutor’ que a filosofia se restringe à crítica aos valores morais, ao aprendizado de enfadonhas teorias filosóficas e ao conhecimento superficial de conteúdos de lógica. Aqui se revela a primeira ignorância do colunista: a difundida tese kantiana de que é “impossível ensinar filosofia, mas só é possível ensinar a filosofar”. Ignora o cronista o fato de que nas nossas ações pedagógicas mediamos conteúdos que permitem aos jovens estudantes compreenderem o fundamento de todas as ciências a partir da filosofia; ignora o analista o fato de que aos ensinarmos a filosofar oferecemos condições de possibilidades aos jovens estudantes para pensar além da lógica binária que restringe a ação política aos conceitos iluministas de direita e de esquerda. Ignora o jurista o fato de que ensinar a filosofar é desconfiar das opiniões próprias porque elas não podem sustentar verdades objetivas sem o mínimo de conteúdo e capacidade argumentativa. Ignora o fato de que ensinar a filosofar é também um exercício de tolerância para com as crenças políticas, religiosas e morais dos Outros e um exercício de autocrítica para com as próprias crenças. Ignora o jurisconsulto o fato de que filosofar com adolescentes é permitir uma reflexão sobre a justiça e o direito a partir dos conteúdos da antiguíssima mitologia grega até obras contemporâneas como a “O que resta de Auschwitz” de Giorgio Agamben. Ignora o advogado o fato de que há métodos pedagógicos criados pelo filósofo estadunidense Matthew Lipman (1922-2010) e publicado através de obras como Philosophy for Children de 1976 e Thinking Children and Education de 1993 que permitem ensinar a filosofar desde a infância e que são amplamente usados por escolas particulares brasileiras para ensinar crianças a filosofar desde o Ensino Fundamental.  Por fim, recobramos um dito antigo que diz “a boca fala sempre para os ouvidos que estão mais perto” e atualizamos para a era digital: “escreve-se textos para o leitor que está mais perto” para que a ignorância e a crença não se transformem em opiniões públicas e perigosas.


Ângelo, professor de filosofia com licenciatura plena e especialista em educação.
Arlindo , professor de filosofia com licenciatura plena e mestre em Educação.
Edgar, professor de filosofia com licenciatura plena e especialista em educação. 
José, professor de filosofia com licenciatura plena e mestre em Educação.
Marcos, professor de filosofia com licenciatura plena e doutorando em educação pela UFSC.

Sergio, professor de filosofia com licenciatura plena e doutorando em filosofia pela UNISINOS – RS.