3 de ago. de 2012

A CRISE E A NOSTALGIA - O MITO DA INTERDISCPLINARIDADE.

A CRISE E A NOSTALGIA - O MITO DA INTERDISCPLINARIDADE.

    Não é necessário frequentar os bancos acadêmicos para constatar a crise pela qual a educação formal está passando - para tal feito, basta apenas acompanhar algum tipo de noticiário. Olha que nem falo aqui da (des) valorização dos profissionais da educação, mas, sim, dos diversos 'ramos' do conhecimento. No interior das instituições de ensino, educadores se deparam com problemas referentes à fragmentação dos saberes, à falta de conexão entre os diversos ‘ramos’ do conhecimento. É a ideia de divisão, de isolamento e de segmentação do objeto do conhecimento defendida pelo cartesianismo de Descartes no início da modernidade. Esta especialização dos saberes é apontada, por muitos estudiosos ,como um dos fatores determinantes que levam a evasão escolar, o fracasso na aprendizagem, a falta de base dos educandos.
               Contudo, esta superespecialização das disciplinas é apenas uma das muitas facetas da crise que a educação e a sociedade do nosso tempo enfrentam. Escrever com propriedade sobre a nossa época é uma tarefa quase que impossível, pois não temos uma distância razoável para refletirmos com qualidade. Todavia, sentimos que não existem mais verdades absolutas, não temos sistemas filosóficos capazes de dar conta da totalidade do real e as grandes narrativas perderam força. Para tal basta irmos à praça pública e fazermos questionarmos às pessoas sobre a noção de Verdade, Beleza, Bondade, Justiça... etc. Perceberemos que são conceitos relativos e até antagônicos.
              Diante disso, em geral temos duas atitudes: uma que cai no relativismo, pois se não há verdade e nem justiça absoluta, então não há nenhuma justiça, nenhuma verdade e tudo é permitido. Outra, é a nostalgia! Depreende-se desta atitutude sentimentos de saudosismo do tempo quando o certo e o errado, o justo e o injusto eram claramente definidos, a esquerda e a direita eram polarizadas.
               Esta nostalgia me parece ser o princípio que fundamenta a busca pela Interdisciplinaridade[1]. É o desejo pela totalidade, a pretensão de unicidade, a visão do todo que foi perdida e que buscamos integrar com todas as nossas forças. E aqui nos deparamos com um “porém:” buscamos a Interdisciplinaridade por uma necessidade urgente diante de uma crise? Ou a buscamos por que temos a convicção de que ela é essencial aos processos educacionais? Não Sei! Mas isso revela um antagonismo que pode ser observado no artigo 3º da LDB no qual se encontram os princípios da educação brasileira e está escrito de forma clara: “pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas”. Este princípio coloca a pluralidade de ideias frente ao nosso desejo pela unicidade, portanto, manifestando um antagonismo da busca pela unicidade integradora dos conhecimentos.
           São as provocações que se colocam em forma de imperativo aos educadores do século XXI.
               


[1]  Os termos Inter, Trans, Pluri, Multi e Disciplina que formam as palavras Interdisciplinaridade, Transdisciplinaridade, Pluridisciplinaridade e multidisciplinaridade significam: Disciplina seria uma saber específico enquadrado dentro de uma visão única de mundo. Multidisciplinar e Pluridisciplinar é o estudo de um mesmo objeto por várias disciplinas. Transdisciplinar é um estudo de um objeto através e além de várias disciplinas... supõe-se aqui não a totalidade, mas a complexidade, a diversidade!! Já a interdisciplinaridade é o anseio pela totalidade, seria a junção de várias disciplinas para estudar um objeto onde ainda prevalece a ideia de disciplina.