DOAÇÃO
Hoje, 14/06/11, os professores da rede estadual de ensino resolveram doar sangue, mais um ato público em função da greve dessa categoria. Pois bem, tal ato parece simples, contudo, por simples que é, merece a nossa reflexão. Segundo o dicionário Houasiss Doar significa, entre outros: dedicar (algo) a ou dedicar-se a (uma causa ou alguém); entregar(-se). Ora, o “pai dos burros” já aponta para a grandiosidade de tal atitude! Entregar-se! Dedicar-se! São palavras carregadas de significado e nos remetem ao ato de educar. Educar é doar-se, entregar-se, dedicar-se.
Jesus Cristo, como bom mestre, procurou saber dos seus discípulos se esses se doavam a sua causa. Perguntou a Pedro três vezes: “Pedro tu me amas?” nas duas primeiras vezes recebeu como resposta: “Philia” que em grego significa o amor-amizade. Pedro, cabeça dura, só na terceira vez entendeu que o amado mestre queria doação, e, sabiamente, respondeu “Ágape!” que na velha língua grega simboliza amor-doação, aquele que não pensa mais em si, mas no Outro.
Os filósofos também ousaram pensar sobre a doação. Martin Bubber, filósofo alemão que viveu na primeira metade do século XX, pensou, falou e escreveu sobre o doar-se. Diz ele que o Homem é capaz da intersubjetividade, isto é, a capacidade que todos temos de interagir uns com os outros. Grandes coisas, diriam alguns! Todavia, a interação nos modos como Bubber fala, para se caracterizar como doação, carece de três importantes dimensões: Diálogo, Encontro e Responsabilidade. Estas três dimensões fundamentais que estão ausentes na relação entre os educadores e o Governo do Estado de Santa Catarina. 1) o diálogo não existe – a gente ouve dizer pela imprensa. 2) Encontro não há – eles falam e nós temos que obedecer. 3) Responsabilidade é ausência total – 92% das escolas paradas, 700.000 alunos sem aula e o governo não toma atitude.
Ora, é justamente por isso que esses educadores clamam nas ruas: Governo desça dos palanques eleitoreiros e venha dialogar! Encontre-se com essa categoria para buscarmos a solução juntos! Tenha responsabilidade por tantos alunos sem aula! Tenha responsabilidade e cumpra as leis! Lei não se questiona, se cumpre! Onde estará a autoridade desse governo para cobrar o cumprimento das leis por parte dos seus cidadãos, se ele é primeiro a desobedecê-las? Ouvimos, pela imprensa, que o governo adotará medidas legais! Pensei comigo, cumprir a lei é uma medida mais que legal, é moral inclusive. Oxalá seja isso que o governo vai pronunciar!
Mas, enquanto isso não acontece, os professores doam sangue, ato singelo, mas carregado de responsabilidade com as vítimas de acidentes graves, de cirurgias complicadas! Ato que lembra o “Ágape” do velho discípulo de Jesus, pois pensa no bem estar do outro. Ato que nos remete a um diálogo silencioso com pacientes que receberão nosso sangue sabe lá em que lugar do nosso estado! Ato que combina com a definição do dicionário, pois dedicamos algo precioso a alguém. Ato que é pura intersubjetividade, como comenta Bubber nos seus escritos, uma vez que exige responsabilidade, encontro e diálogo. Para terminar lembro aqui a frase de uma professora: “O governo quer o meu sangue, mas eu vou doá-lo a um necessitado.”