A CRISE E A NOSTALGIA - O MITO DA INTERDISCPLINARIDADE.
Não é necessário frequentar os
bancos acadêmicos para constatar a crise pela qual a educação formal está
passando - para tal feito, basta apenas acompanhar algum tipo de noticiário. Olha que nem falo aqui da (des) valorização dos profissionais da educação, mas, sim, dos diversos 'ramos' do conhecimento. No interior das instituições de
ensino, educadores se deparam com problemas referentes à fragmentação dos
saberes, à falta de conexão entre os diversos ‘ramos’ do conhecimento. É a
ideia de divisão, de isolamento e de segmentação do objeto do conhecimento
defendida pelo cartesianismo de Descartes no início da modernidade. Esta
especialização dos saberes é apontada, por muitos estudiosos ,como um dos fatores determinantes que
levam a evasão escolar, o fracasso na aprendizagem, a falta de base dos
educandos.
Contudo,
esta superespecialização das disciplinas é apenas uma das muitas facetas da
crise que a educação e a sociedade do nosso tempo enfrentam. Escrever com
propriedade sobre a nossa época é uma tarefa quase que impossível, pois não temos
uma distância razoável para refletirmos com qualidade. Todavia, sentimos que
não existem mais verdades absolutas, não temos sistemas filosóficos capazes de dar
conta da totalidade do real e as grandes narrativas perderam força. Para tal
basta irmos à praça pública e fazermos questionarmos às pessoas sobre a noção de
Verdade, Beleza, Bondade, Justiça... etc. Perceberemos que são conceitos
relativos e até antagônicos.
Diante
disso, em geral temos duas atitudes: uma que cai no relativismo, pois se
não há verdade e nem justiça absoluta, então não há nenhuma justiça, nenhuma
verdade e tudo é permitido. Outra, é a nostalgia! Depreende-se desta atitutude sentimentos de
saudosismo do tempo quando o certo e o errado, o justo e o injusto eram
claramente definidos, a esquerda e a direita eram polarizadas.
Esta
nostalgia me parece ser o princípio que fundamenta a busca pela
Interdisciplinaridade[1]. É
o desejo pela totalidade, a pretensão de unicidade, a visão do todo que foi
perdida e que buscamos integrar com todas as nossas forças. E aqui nos deparamos com
um “porém:” buscamos a Interdisciplinaridade por uma necessidade urgente diante
de uma crise? Ou a buscamos por que temos a convicção de que ela é essencial
aos processos educacionais? Não Sei! Mas isso revela um antagonismo que pode
ser observado no artigo 3º da LDB no qual se encontram os princípios da educação
brasileira e está escrito de forma clara: “pluralismo de ideias e de concepções
pedagógicas”. Este princípio coloca a pluralidade de ideias frente ao nosso
desejo pela unicidade, portanto, manifestando um antagonismo da busca pela unicidade integradora dos conhecimentos.
São as provocações que se colocam em forma de imperativo aos educadores do século XXI.
São as provocações que se colocam em forma de imperativo aos educadores do século XXI.
[1] Os termos Inter, Trans, Pluri, Multi e
Disciplina que formam as palavras Interdisciplinaridade, Transdisciplinaridade,
Pluridisciplinaridade e multidisciplinaridade significam: Disciplina seria uma
saber específico enquadrado dentro de uma visão única de mundo.
Multidisciplinar e Pluridisciplinar é o estudo de um mesmo objeto por várias
disciplinas. Transdisciplinar é um estudo de um objeto através e além de várias
disciplinas... supõe-se aqui não a totalidade, mas a complexidade, a
diversidade!! Já a interdisciplinaridade é o anseio pela totalidade, seria a
junção de várias disciplinas para estudar um objeto onde ainda prevalece a
ideia de disciplina.