O Mito Fundador - resenha
Ó Grande Pátria Desimportante em nenhum instante eu vou te trair. (Cazuza)
O texto Com fé e Orgulho da professora Marilena Chauí aborda com muita propriedade aquilo que é comum à maioria dos brasileiros. Trata-se, no primeiro momento, de uma narrativa do que geralmente aprendemos na escola sobre os símbolos que representam o Brasil (Hino, Bandeira, Futebol...). Também faz parte deste primeiro momento uma narrativa sobre aquilo que nós, os brasileiros, trazemos de senso comum[1] sobre o nosso país. É o que está colocado no texto como crença generalizada[2]. Porém esta visão dos brasileiros é carregada de ambigüidades e contradições que no texto são chamadas de “Mito Fundador”.
O Mito fundador do qual fala a professora Marilena Chauí parece representar a força fundadora que fez e faz os brasileiros terem uma representação tão positiva do Brasil mesmo ao lado de fatos que mostram na prática exatamente o contrário dessa visão “romântica” da realidade. Trata-se das ideologias[3] que estão subjacentes nos momentos de formação e de construção da História. Estas ideologias, segundo o texto, tendem a se repetir e a se readaptar para manter uma ordem desejada e preestabelecida pelas classes dominantes. É o que vai ser analisado na seqüência como o título de Verdeamarelismo.
O texto Verdeamarelismo - fundamental para compreender o mito fundador - começa fazendo uma análise comparativa do que significou para os brasileiros a conquista do campeonato mundial de futebol de 1958 em relação ao campeonato de 1970. Isto com o objetivo de mostrar o que é verdeamarelismo. Trata-se, segundo o texto, da construção de uma imagem celebrativa do país elaborada pelas classes dominantes. Portanto, nada melhor do que o futebol - “a paixão nacional” - para construir esta imagem celebrativa.
A questão que o texto busca mostrar é justamente a da construção de uma imagem nacional – o verdeamarelismo. Contudo, não é uma imagem nacional livre de ideologias e forças dominadoras. É a imagem que a classe dominante quer e deseja que todos tenham do país. Trata-se, portanto, de uma visão passada pelo texto muito interessante. Esta visão está embasada em interpretações de fatos históricos que nos levam a pensar criticamente o real significado dos símbolos nacionais.
O verdeamarelismo aparece como uma força metafísica que age sorrateiramente através dos símbolos e paixões nacionais conquistando mentes, alienando intenções e o pior: dá créditos à Natureza, ao Estado e a Deus. Estes seriam os únicos elementos com poder suficiente para mover e transformar a História. Ora, isso é muito significativo, pois retira da sociedade brasileira e dos sujeitos que a compõe a ação capaz de transformar e fazer a História do Brasil rumar ao progresso que, paradoxalmente, é apregoado pelo verdeamarelismo.
Ora, é por estas razões que a autora do texto fala de mito fundador, pois quando se enaltece a Deus e a Natureza como sujeitos principais da ação criadora estamos no campo da mitologia. Aqui o texto nos leva a concluir que a “nação brasileira” é produto da ação criadora deste seres que foram enaltecidos pelo forte Leviatã[4] brasileiro, isto é, o Estado brasileiro constituído e formado pela classe dominante. São questões muito pertinentes colocadas pelo texto e nos levam a essas reflexões e conclusões.
[1] Por senso comum entendemos a primeira compreensão do mundo resultante da herança de um grupo social e das experiências atuais que continuam sendo efetuadas. Pelo senso comum, fazemos julgamentos, estabelecemos projetos de vida, adquirimos convicções e confiança para agir.
[2] Cf.: CHAUI, 1996, p. 08. Nesta página há uma descrição bem pontuada sobre a visão do brasileiro sobre o Brasil.
[3] Ainda que o conceito de ideologia seja discutível, trata-se de um conjunto de proposições elaboradas, na sociedade burguesa, com a finalidade de fazer aparentar os interesses da classe dominante com o interesse coletivo, construindo uma hegemonia da classe dominante.
[4] Tomas Hobbes, filósofo inglês do século XVII, desenvolveu a idéia de um Estado forte, opressor e totalitário a partir da figura mitológica do Leviatã, um deus poderosíssimo e indestrutível.
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