República Velha e a Educação
O livro da professora Marta Maria Chagas de Carvalho, intitulado A Escola e a República elege o tempo da República Velha para desenvolver suas reflexões sobre a escola. Com a intenção de fazer um recorte epistemológico, o texto verticaliza a sua análise nas primeiras duas décadas do século passado. Nesta linha o texto mostra as preocupações que rondavam as práticas políticas da elite brasileira. Tratava-se de formar no povo da república iniciante um sentimento de nacionalidade. Isto aparecia com a idéia de se dar forma à massa disforme. Em palavras diretas, havia a necessidade de fazer do Brasil uma Nação. Esta era a tarefa da escola, na visão dos intelectuais dos anos vinte.
A questão é que não havia uma política definida para os negros recém-libertos do regime escravocrata. Do mesmo modo, não havia uma política clara para os imigrantes que chegavam para ser a principal força de trabalho da república brasileira. Ora, se havia um descaso quase que total para com essas pessoas, então, de comum acordo com o texto, podemos concluir que a república estava em débito com a sua maior massa populacional – os pobres. Diante deste cenário era necessário criar estratégias para sanar esta dívida. Qual seria a estratégia fundamental para dar contas do dever para com o povo? A educação.
A educação era a principal bandeira da política republicana. Nisto, o ato de construir escolas se transformara numa verdadeira celebração para os governos republicanos. Tudo o que era feito em termos de educação deveria ser visto por todos. Era a maneira pela qual o Estado mostrava o seu poder e sua ação. Nesta mesma linha é que se reformularam as práticas pedagógicas do sistema educacional republicano. O modelo americano de educar foi implantado, e, por sinal, muito ovacionado pelos republicanos. Nada foi produzido no Brasil, mas o método, o material didático e até os educadores vieram do estrangeiro.
Não obstante, este sistema de educação foi elaborado para as elites. Era fruto do projeto eugênico de Caetano de Campos. Portanto, excludente e seletivo. Na escola republicana estudava o aluno de origem européia. O negro e o mulato estavam fadados ao analfabetismo. Com este modelo o que se queria era o melhoramento da raça. Destarte, o negro e o brasileiro representavam um obstáculo a este projeto hegemônico de Caetano de Campos. Ora, estas questões impuseram novos desafios à república. Um, porque os estrangeiros não efetivaram os projetos republicanos; outro porque os excluídos do sistema formaram um grande contingente de analfabetos.
Com estas questões inaugurou-se o que, no texto, se chamou de entusiasmo pela educação. Disciplina, controle e regularização eram, por excelência, as práticas educativas eleitas pelos intelectuais dos anos vinte. Tirar do analfabetismo significava uniformizar a massa brasileira que estava disforme. A educação do corpo para o trabalho e a educação dos desejos e vontades para o civismo era o que se entendia por educação integral. Nisto entra em cena o modelo taylorista[1] aplicado à educação.
Racionalização do tempo e do espaço das pessoas era fundamental nos escritos moralistas deste tempo. Tudo deveria ter esta perspectiva educativa. No fundo o se queria era criar o hábito projetado e planejado pela elite. Elite esta que se fazia conhecer por meio da Associação Brasileira de Educação – ABE.
Ora, tudo era idealizado. Deste modo, as pessoas deveriam reproduzir os ideais elitistas, moralizantes e disciplinares aonde se encontrassem. Este projeto não queria outra coisa do que a igualdade. Mas a igualdade elaborada e oferecida por alguns privilegiados. Portanto, diante disso não havia liberdade. Somente seria o cidadão brasileiro quem reproduzisse com sua vida o anteriormente planejado. Este era o projeto da república para a escola.
[1] Taylorismo é uma concepção de produção, baseada em um método científico de organização do trabalho, desenvolvida pelo engenheiro americano Frederick W. Taylor (1856-1915). Não obstante, em educação desejou-se os mesmos efeitos que ocorriam nas linhas de produção das grandes fábricas do final do século XIX.