8 de jun. de 2023

Uma crônica do amor à terra.

 


O monge, depois de dez anos no monte da sua solidão, acordou um com um forte brilho de aurora no seu rosto e sentiu-se demasiado enfastiado com o seu deserto espiritual e refletiu.

- “Preciso ir ao oásis onde estão os homens”.

O sábio arruou seu alforge, calçou a sua sandália e se pôs a caminho. Na longa descida adentrou no seu imaculado pensamento e mais ou menos conjecturou que as colmeias do conhecimento precisam ser esvaziadas para alimentar os famintos que no verão ignoram o inverno da existência.

Ao chegar na planície, o velho monge, um apaixonado pelo recolhimento teve as suas janelas da percepção abertas nas quais ele pode ver uma larga planície de má consciência entre os homens. Nas conjecturas do seu imaculado conhecimento ponderou e persuadiu a si mesmo a espalhar o seu mel para os homens que vivem no verão.

- “Há vergonha e má consciência no amor dos homens, pois eles também amam a terra e tudo que é terreno, mas há vergonha no seu amor”.

Por serem desprezadores do corpo, abjuram as próprias entranhas e há odor de putrefação onde os homens estão reunidos, averiguou o monge. Num pacto com seu ato de conhecimento, o erudito persuadiu a si mesmo de que a vergonha de fazer a vontade das próprias entranhas espalhou a mentira e a dissimulação de forma que há muita ‘felicidade’ em uma vida despida de desejo e com a vontade aprisionada, quase morta sem a potência criadora nas suas garras e sem o impulso da cobiça e do egoísmo.

Então o velho mestre concluiu e espalhou seu mais puro mel:

- “Há muita inocência onde há vontade de criar e cultivar a si mesmo e quem deseja ser um criador tem a vontade mais pura! Por isso é belo ter vontade de amar, mas também de declinar! Ter vontade de amar, é possuir boa vontade de igual maneira com a morte!”

E ao por fim, o monge sacudiu sua túnica, ouviu as suas entranhas, acatou as ordens do seu espírito e deixou o seu mais puro conhecimento:

- “Sede fiéis à terra e não acrediteis naqueles que falam de esperanças supraterrâneas. Envenenam o corpo e aprisionam o espírito!”

Assim falou o esse humanista, demasiado humano. 


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